Podar ou não podar o Maior Cajueiro do Mundo? Eis a questão que divide corações e consciências
Poucos símbolos naturais no Brasil carregam tanto encanto, curiosidade e afeto popular quanto o Maior Cajueiro do Mundo, localizado em Pirangi do Norte, no município de Parnamirim/RN. Com mais de 8.500 m² de copa, o gigante verde ultrapassa o imaginável e se tornou um dos mais notáveis atrativos turísticos do Estado — além de figurar no Guinness Book como o maior cajueiro do planeta e, para muitos, o maior ser vivo do mundo em área.
Mas eis que uma nova discussão floresce, tão orgânica quanto seus galhos: será que chegou a hora de podar o cajueiro?
O crescimento acelerado da árvore, que se estende por ruas, invade calçadas e pressiona o tráfego local, fez soar o alarme entre urbanistas, ambientalistas, comerciantes e, claro, a comunidade local. Uma audiência pública está marcada para debater o futuro do cajueiro. A questão que se impõe é simples e profunda: como equilibrar a preservação ambiental com a necessidade de mobilidade urbana e segurança?
Um dilema entre o sagrado e o necessário
O cajueiro não é uma árvore qualquer. Ele representa o orgulho de uma cidade, de um Estado e de todo um povo que aprendeu a conviver com sua sombra generosa. Sua fama ultrapassa fronteiras, impulsiona o turismo, alimenta a economia criativa local e emociona visitantes de todo o mundo.
Por outro lado, o crescimento descontrolado ameaça a infraestrutura urbana do entorno, gera riscos para pedestres e veículos, e até mesmo prejudica a sua própria saúde vegetal. Há especialistas que defendem uma poda técnica, criteriosa e sustentável, que respeite os princípios da arboricultura urbana e garanta a longevidade do cajueiro. Outros, no entanto, temem que qualquer intervenção possa comprometer sua integridade ou até invalidar o título de “maior do mundo”.
O papel da sociedade e da ciência
É preciso valorizar o debate democrático. O futuro do cajueiro deve ser decidido com base em estudos técnicos rigorosos, mas também ouvindo a voz da comunidade e dos profissionais que historicamente cuidam da árvore. Que a decisão não seja fruto de pressões políticas ou de interesses pontuais, mas sim de um olhar coletivo e responsável.
Mais do que preservar um recorde, é hora de preservar o legado — com sabedoria, sensibilidade e técnica. O cajueiro é vivo, respira, cresce e interage com a cidade. Cabe a nós garantirmos que ele continue encantando as futuras gerações sem se tornar um fardo para o presente.
Seja pela poda parcial, pelo redirecionamento urbano ou pela implantação de novas estratégias de manejo, o importante é que essa decisão não seja feita às pressas ou com leviandade. O Maior Cajueiro do Mundo merece mais do que respeito: merece cuidado, ciência e amor.
“Durante minha gestão como secretário-adjunto de Turismo de Parnamirim, acompanhei de perto o desafio de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação desse símbolo natural. O cajueiro é parte viva da nossa identidade — precisamos tratá-lo com técnica, mas também com afeto e visão de futuro.”
Paulo Lopes, ex-secretário-adjunto de Turismo de Parnamirim/RN