Belmond Copacabana Palace completa 100 anos e oferece um presente
O Copacabana Palace é uma pérola deste colar chamado orla de Copacabana, foi e continua sendo o epicentro de fatos (e fotos) que movimentaram a economia do Brasil, do Rio de Janeiro no último século. Pelo movimento e burburinho de seu lobby, dos seus salões e corredores, muita coisa vai acontecer ainda nos próximos 100 anos. Fui testemunha ocular por três dias.
Ao redor do Copacabana Palace – que em agosto deste ano comemora seu centenário – movimenta-se uma cadeia econômica inteira e leva em sua esteira um clima genuinamente carioca, brasileiro. A isso se misturam marcas e grifes, gente ilustríssima e anônima que gravitam dentro e em torno deste monumento da hospitalidade e do encontro. Gente elegante entra e sai pela porta giratória do hotel e o lobby é sempre recheado de pessoas, chegando ou partindo.
Hospedar é palavra incompleta
Hospedar aqui não deve levar o nome hospedar, já que é uma palavra incompleta para dar sentido à essa experiência de caminhar pelos corredores onde reis e rainhas, chefes de Estado, lendas do rock e da música erudita, do teatro, das artes e das ciências passaram com sua aura magnética de cargo ou de fama.
Hospedar é uma palavra incompleta quando tentamos identificar que cheiro tem o lobby do hotel: capim santo, camomila, patchouli? É incompleta quando tentamos contar a quantidade de travesseiros (alguns com íons em prata) ou a qualidade dos amenities feitos com os segredos da floresta tropical e com castanha do Brasil.
Trabalho, talento ou o acaso
Guardadas as proporções, mergulhar nesse mar de histórias é integrar-se à estirpe de cristal de seres humanos que por consequência de seu trabalho, talento, descendência (ou até mesmo por sorte ou acaso) pisaram estes mesmos tapetes, desceram por estas mesmas escadas, dormiram, talvez, nesse mesmo quarto e olharam essa mesma praia de Copacabana em seu nascer do sol.
Elaborado, mas não rebuscado, refinado, mas não brega
Neste palácio da hospitalidade fui tratado pelo nome e se não me senti um rei, ou um príncipe, integrei-me à realeza em meu imaginário. Tornei minha experiência um êxtase dos sentidos com o refinamento próprio de um luxo não afetado pelo preço das coisas e dos serviços, mas pelo alto valor das relações humanas, o incalculável valor da vida em seu estado pleno, elaborado, mas não rebuscado, refinado, mas não brega. Em seu centenário o hotel alcançou, graças à sensibilidade de centenas de artistas, designers, arquitetos, engenheiros, matemáticos e administradores, o ápice do bom gosto.
Brasilidade genuína
Como paulista que sou, não me sinto estrangeiro no Rio, mas o hotel vem recebendo cada vez mais gente de fora, passada a pandemia. Tem aumentado o número de hóspedes que falam outras línguas, no entanto, o clima do hotel neste fim de verão tem uma brasilidade genuína, seja na hileia tropical pintada nas aquarelas dos corredores, seja na decoração clássica que se ajusta ao ambiente como uma luva à mão, seja no sorriso autêntico do carioca Santos, que me atende no restaurante Pérgola.
Pelo Nome
A governanta Ana me trata pelo nome e isto me oferece uma familiaridade, um bem-estar inexprimível. O tom de sua voz é suave e suas palavras soam como uma sinceridade maternal, de quem cuida e se preocupa com o hóspede. “Sim, tenho água, tenho café, acesso à internet e uma vista espetacular para a Cidade Maravilhosa!,” agradeço em tom também amável.
Copacabana Palace, uma apropriação amorosa
A janela do apartamento 307 abre-se para a praia mais famosa do Brasil e daqui vejo um Rio em movimento logo às 6h da manhã: colmeias de ciclistas tomam a faixa da avenida Atlântica e impõem a bandeira da vida saudável. Um pouco depois, jovens, mulheres, crianças, adultos e idosos andam no calçadão e alguns param para observar essa pérola lapidada do outro lado da avenida.
“É o Copa!”
As pessoas fotografam, fazem self. E tratam o hotel de uma forma carinhosa que só o brasileiro sabe: “É o Copa!” É uma espécie de apropriação amorosa, regional, autêntica, como os biscoitos Globo, ou as sandálias Havaianas. “O Copa”, dizem os turistas; “O nosso Copa!”, dizem os cariocas. Muitos jamais entraram no hotel, nunca experimentaram sua piscina ou o restaurante, mas a empatia ao hotel foi transferida pelo cantor pop-star que acenou do terraço. Muitos jamais entraram no hotel , mas o amor ao Copa nasceu da princesa que mandou um beijo da janela e gerou uma lágrima em quem viu isso.
Paulo Atzingen é jornalista e fundador do DIÁRIO DO TURISMO.